terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

Não pise na grama e Não beije na boca!





Costumava dizer que fora a impossibilidade de vida e não a ausência de amor que nos separara.
Havíamos nos conhecido pouco mais de um ano após uma dolorosa separação, a minha. Longas conversas, troca de poemas, segredos, confidências e a descoberta de uma alma sensível do outro lado da tela, o quê durou alguns meses, até que decidimos pelo encontro.
Quando aconteceu, foi como se nos conhecêssemos há séculos e, o que acontecia apenas em palavras tomou forma.
Sempre que falo sobre essa fase, digo que ele foi um divisor de águas, do tempo na minha vida. Sei de mim antes e depois dele, apenas isso. Diria que não apenas permitiu como estimulou o desabrochar (bonito isso, não?) da mulher que morava em mim, não aquela que andava pela casa, cuidava dos filhos e do marido, mas a que eu via, apenas eu, quando me olhava no espelho.
Quando nos separamos, apenas fisicamente, um ano depois, falei isso pra ele, que me respondeu: “Não fiz nada, esteve tudo sempre aí....só faltava florir”.
Por mais de dois anos, foram apenas os poemas, algumas frases trocando notícias, raríssimos telefonemas, e qualquer possibilidade de encontro rejeitada.....era preciso respeitar a impossibilidade da vida.
Bem, mas a vida..... a vida a gente sabe como é: reserva surpresas.
Um dia, chega um email: um curso aqui na cidade, seria possível um encontro??
Há certas coisas que o tempo não muda.
Fui buscá-lo final de tarde de um sábado.
Quando entrou no carro, beijou aquele beijo de cumprimento, como se nos tivéssemos visto no dia anterior, fiquei imaginando até que seria pelo hábito, um descuido,...fez brincadeiras, como sempre.....o tempo não havia mudado nada.
Como nada??? Pintei os cabelos, vc não notou????
Não conhecia a cidade, e disse: Estou em suas mãos, vc é a anfitriã!
Escolhi um dos lugares que mais gostava na cidade. Um bar/choperia, instalado em uma casa antiga, restaurada, com um jardim lindo e um cão maravilhoso como mascote.
Sabia que ele iria gostar.
Final de tarde, noite caindo, luzes do jardim começando a serem acesas, e a conversa rolando solta, alegre.
A vida acabara de tornar possível o reencontro. Coisa especial essa possibilidade, quantas pessoas tem esse privilégio? Nós tivéramos. Foi impossível ficar indiferente a emoções que o reencontro trazia.... olhos nos olhos, as mãos a se tocarem de leve....
A noite chegou mansa, as luzes acesas. E
Estávamos praticamente sozinhos naquele lado do jardim, apenas uma mesa mais adiante com uma família, o casal e duas crianças.
O clima era propício..... a saudades, as lembranças, a proximidade.....impossível resistir.....um beijo.....outro beijo.....mais um, daqueles que a gente vai de mansinho, sente a mão na nuca, fecha os olhos e...sonha.
Até que ouvimos: Com licença..... Licença??? De onde vinha aquilo?? Interrompemos o beijo.....o clima....o sonho....
A garçonete estava parada em nossa frente, nos olhando (a mim pareceu que com certa satisfação) como se fosse a coisa mais natural do mundo interromper uma casal, que troca beijos!
Fiquei pasma, mas ela continuou impassível: É que acontece o seguinte, é proibido beijar aqui.
Não, eu não estava ouvindo aquilo, era um pesadelo. Mas ela insistia: São ordens. A casa é familiar, e os beijos podem constranger as crianças.
Sorri, completamente sem ação, sem noção, sem chão. Claro, tudo bem. Só faltou pedirmos desculpas.
Mal conseguia olhar para ele, de tão envergonhada que estava. até que.....espere um pouco! Como é que é?? Não pode beijar??? Céus, mas onde estamos??
Isso mesmo, não se pode pisar na grama, nem beijar na boca nos jardins da choperia!!!!!
Sentia-me ridícula, uma senhora,com mais de quarenta anos (também não direi quantos acima....), advogada, respeitada, mãe de duas moças, ser interpelada por uma jovem, por estar trocando beijos.... eu disse BEIJOS!!!
Ficamos tão constrangidos, que não nos restou alternativa senão pedir a conta e sair dali.
O responsável pelos beijos, divertia-se com minha indignação: Já sei vc não vai ficar calada, não é??
Num esforço para entender a situação, pedi que a conta fosse trazida pelo gerente da casa, o que aconteceu depois de certa relutância por parte dos funcionários. Comentei o ocorrido e, que como frequentadora antiga da casa, estava constrangida.
Foi a mesma explicação: “pode constranger as crianças”.
Olhei a única mesa ocupada nas proximidades,a família continuava lá, onde já havia alguns copos de chopp vazios sobre a mesa, e disse com o gerente: O senhor certamente tem razão!
Certamente não valeria a pena argumentar com ele, com certeza ele acreditava que era mais correto nos constranger por trocarmos beijos, do que aos pais que bebiam na frente dos filhos.
E saímos dali,onde era proibido pisar na grama, beijar na boca e permitido beber à vontade!
Mas o momento merecia mais que proibições, saímos em busca de um lugar onde fosse permitido beijar, e achamos!E o encantamento voltou, agora, sem restrições.
E recomendo: Crianças, pisem na grama......beijem muuuuuito na boca, e esqueçam as bebidas alcoolicas, e sejam felizes!!!!

(Esse texto foi escrito há uns 5 ou 6 anos. Resolvi postá-lo, depois de tanto tempo, por saber, neste ultimo final de semana, que hoje em dia, uma parte do casal em questão, esta feliz, apaixonado e, pode beijar em qualquer lugar.Be happy, honey!!!)

Um comentário:

Joe_Brazuca disse...

Well, well...rsrsr

Então...conheço uma pessoa do meu "relacionamento" ( opa..nem tanto..é tipo, quase nada, manja ?...rs), que se v~e alguem se beijando com um pouco mais de afeto, tem a pachorra de alardear um discursinho sem-vergonha, tipo "que pouca vergonha !...isso aqui é lugar de respeito !...Não esta vendo que aqui só tem família ??"...e por ai, vai, com ares de "Senhoras Católicas de Santana", manja ?...rsrsrs

O que ocorre, agora um pouco mais sério, é o tal do "preconceito" ( sugiro que leia sobre o tema-se é que ja não leu- no nosso humilde blog, do Joe_Brazuca, afiliado a este...).A hipocrisia "judaico-cristã" determinista como sempre e historicamente castradora, criou o pecado em cima de carinhos todos entre seres humanos...Por outro lado, criou permissões sobre a violência, as guerras "santas", as inquisições, e o "politicamente correto"...
Aposto que o mesmo "boteco" ( pra mim não ha diferênças maiores entre um e outro...rsrs), lá pelas 20 e tantas horas, deva ligar sua televisão comunitária, na tal da "rede bobo de televisão", onde todos, crianças , adultos, velhos e moços, enfim, quem la estiver, com o volume bem alto, pra que não percam nem um segundo de todas as cenas de fornicação pra lá de explicitas, da "NOVELADASOITO"...né não ?...rsrs...e todos irão felizes, bebados e "familiares" pras suass casinhas....rsrs

excelente sua crônica, querida amiga !...um beijo
Joe