domingo, 28 de dezembro de 2008

Caçadoras de Pipa


Vinicius tem umtexto sobre "Amigos" que eu adoro, principalmente a parte que diz:
" A alguns deles não procuro, basta-me
saber que eles existem.
Esta mera condição me encoraja a seguir
em frente pela vida."

Costumo dizer que sou privilegiada, pois tenho mais amigos do que posso contar nos dedos de uma mão. Amigos sinceros, daqueles que vc pode contar sempre, em qualquer situação.
Tive demonstrações das mais diversas nesse sentido, por conta dessa doença (por que a gente reluta tanto em dizer o nome da dita??? pois vou dizer), por conta desse câncer que me pegou desprevinida.
Foram muitas, mas duas em especial, quero contar aqui:

Conheço a Elisete há uns 30 anos (nossa!!!!), estudamos juntas na faculdade, demos todos os "pinduras" que tínhamos direito. Ficamos um período meio que afastadas, exceto por alguns contatos esporádicos. Eu me casei logo que terminei a facul e ela tocou a vida profissional. Alguns bons anos mais tarde nos reencontramos, ela como minha "chefe". E nossa amizade continuou, como se não tivesse o tempo passado. Algumas vezes ela me disse que eu era a "irmã" que Deus havia lhe dado, já que na família tem só o Kiko e o Valter.
Posso afirmar, com certeza, que ela tem sido muito mais que irmã. Sua preocupação comigo, sua ajuda, seu estímulo tem sido essencial no meu tratamento. Sua preocupação ultrapassa palavras, são ações, atitudes. Providencia remédios fitoterápeuticos, visitas constantes, telefonemas quase que diários. No dia que meu médico ligou e disse que a possibilidade de NÃO ser câncer era de 5%, foi pra ela que liguei, arrasada. Em poucos minutos, ela estava aqui em casa, pronta pra me confortar, estimular e consolar tb.

Conheço a Michele há quase tanto tempo quanto a Elisete. Trabalhamos juntas em um clínica na época que eu fazia a facul. A proximidade foi devido a nossa crença, ela menonita e eu presbiteriana, fora o "pelo no peito" dos homens, não sei muito bem qual a diferença (ela vai me matar ao ler isso....rs).
Fomos madrinhas de casamento uma da outra e agora, passados os anos, nos perguntamos se essa foi a causa de nossos casamentos não terem dado certo, brincadeira.
Há 16 anos ela mora no Canadá, e há 10 não nos víamos. Lembro que, quando do falecimento de meus pais, ela ficou sabendo e ligou pra mim, choramos e ela lamentou: "Como em um momento como este, eu não estou perto de vc?"
Foi sabendo do meu processo todo de exames e médicos via email, até que decidiu: "Desta vez eu posso estar perto de vc, primeira semana de dezembro estarei aí". E veio! E foram quinze dias deliciosos, conversamos muito, abrimos e fechamos nossos baús de lembranças, cuidou de mim no piores dias de reação da quimio, passeamos, tomamos café da tarde na Romana, e choramos como crianças no aeroporto.
Uma tarde, quando chegavamos em Hortolândia, ela, com sua inseparável câmera (coisa de gringo mesmo, né??), observou que sempre que tentava fotografar um menino soltando pipa, não conseguia. O Erik, seu filho mais novo, havia lido o livro, e ela queria mostrar a ele, como acontecia, de verdade. Vi algumas no céu, e falei: "vamos atras delas" . Ela não acreditou, e perguntou: Vc faria isso? Eu que estava dirigindo, e ela sempre se preocupava em não me cansar. Rodamos algumas quadras e achamos o menino que empinava a tal pipa, esse da foto.
E eu poderia ter respondido a ela, e tb a Elisete, como Hassan, o do livro: Por vc eu faria isso mil vezes.
Porque eu sei que somos, nós três, caçadoras de pipas, sempre dispostas a fazer pela outra, o que for preciso e quantas vezes for necessário.
Nesse momento quem precisa sou eu, e a disposição de vcs, em fazerem "até mil vezes" me anima a ir em frente, sempre e sempre.

Sentimentos como amor e amizade não se explicam, sentimos e só.



Nenhum comentário: